VIVENDO NA SIMPLICIDADE
“Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo." Atos 2:46-47.
O que é ser simples? Simplicidade é aquilo que não é complicado, que é simples e natural. Este substantivo também pode representar a qualidade de quem é franco, sincero, puro ou inocente.
Quero falar sobre a simplicidade. O que significa ser simples? Vamos discutir um pouco sobre simplicidade na igreja. Se hoje fizéssemos um culto na casa de um irmão, como seria? De forma mínima, o que levaríamos para a casa do irmão que nos acolhe? Por exemplo, em um culto de gratidão, faríamos o seguinte: eu chamaria o líder do ministério de música e diria que precisamos de alguém para tocar violão. Também precisaríamos de alguém para cantar.
Além disso, precisaríamos de um pregador e de alguém para abrir o culto com uma passagem bíblica. Assim, faríamos um culto simples que atende bem às necessidades daquele local e seria um culto agradável. Agora, trazendo isso para o ambiente da igreja, como seria o culto? Em uma igreja simples, também de maneira mínima, precisaríamos da área do louvor com instrumentos básicos como bateria, violão e teclado. Talvez uns três cantores e um pregador que seja eloquente, pois ninguém suporta uma pregação arrastada e sem sentido. Também precisaríamos de um dirigente com desenvoltura para não desanimar as pessoas, mas sim animá-las com uma boa leitura, sem gaguejar ou arrastar as palavras.
Nessa perspectiva, um culto simples seria algo descomplicado. Mas às vezes pensamos que precisamos de mais. Na verdade, complicamos demais. Hoje temos um templo e instrumentos que requerem qualidade. Precisamos de pessoas que cantem bem, bons pregadores, bons dirigentes de culto, e pessoas que falem bem na hora da oferta. Claro, um ar condicionado e bancos confortáveis ajudam as pessoas a suportarem pelo menos 40 minutos de pregação.
Uma igreja bonita e um louvor com pelo menos três músicas são importantes para que as pessoas possam se sentar e levantar sem se incomodar. Isso seria o perfil de um culto simples na realidade das nossas igrejas, de forma que atenda às necessidades.
O QUE PRECISAMOS DE VERDADE?
Mas, se pensarmos bem, todas essas coisas são para nós. Vou dizer que isso não tem nada a ver com Deus. Claro que há um sentimento profundo naquele que canta, prega e dirige o culto, de que está fazendo algo para Deus, e isso não deve ser desconsiderado.
Se buscarmos a simplicidade em sua forma mais pura, perceberemos que não precisamos de nada material para realizar um culto que agrade o coração de Deus. Na verdade, Deus requer apenas uma coisa para que o culto ocorra de forma ideal: um coração simples, puro, disposto a adorar e com contrição. Ele não precisa de um ambiente sofisticado, de instrumentos musicais ou de um local climatizado para que o culto aconteça. Como mencionei, todas essas coisas são para nós, não para Deus. Claro que devemos sempre fazer o melhor para Deus, mas para alcançar Seu coração, é necessária apenas a simplicidade.
Para que alguém aceite Cristo como Senhor e Salvador de sua vida, é preciso sentir a presença de Deus, e não é o ambiente que propicia isso, mas sim um momento de comunhão e adoração, uma palavra que toque verdadeiramente o coração e que transmita o Evangelho transformador. Isso é o que define a simplicidade.
SÓ PRECISAMOS CONFIAR EM DEUS
Vamos pensar um pouco, o templo de Salomão era riquíssimo, uma construção maravilhosa, feita com tudo de primeira linha. Davi e Salomão investiram tudo que tinha de melhor, e Deus aprovou a obra e tudo que ele havia feito, mas deixou um recado. “Se eu cerrar os céus, e não houver chuva, ou se ordenar aos gafanhotos que consumam a terra, ou se enviar a peste entre o meu povo; e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra. Agora, estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração deste lugar.” 2 Crônicas 7:13-15.
O segundo templo foi diferente, a "primeira casa" se refere ao Templo de Salomão, enquanto a "segunda casa" se refere ao Segundo Templo, reconstruído após o retorno dos judeus do exílio na Babilônia. A "glória" da segunda casa é considerada maior porque, apesar de ser fisicamente mais modesta do que o Templo de Salomão, ela foi abençoada com a presença e a obra de Jesus Cristo, que ministrou no Templo durante sua vida terrena. A vinda de Cristo e seu sacrifício redentor trouxeram uma glória espiritual e uma nova aliança que excederam em importância a glória física do Templo de Salomão. “A glória deste novo templo será maior do que a do antigo“, diz o Senhor dos Exércitos. “E neste lugar estabelecerei a paz“, declara o Senhor dos Exércitos. Ageu 2.9
JESUS ERA SIMPLES
Jesus foi um exemplo de simplicidade em tudo o que fazia: falava de maneira simples, se comunicava de forma direta com as pessoas e até mesmo realizava milagres de maneira descomplicada. Ele nasceu em um lugar humilde, caminhou por locais comuns e, com sua maneira simples, convenceu multidões. Isso foi possível porque Ele possuía algo muito especial: o poder do Espírito Santo. Jesus não convenceu as pessoas por ser o Filho de Deus, mas por ser quem era: simplesmente Jesus, pregando um evangelho simples. E nós, como tem sido a nossa forma de viver? Será que mantemos a simplicidade ou às vezes caímos na ilusão de sermos mais do que realmente somos?
Paulo, ao escrever aos Romanos no capítulo 12, versículo 13, diz: “Pois pela graça que me foi dada, digo a cada um de vocês: não pense de si mesmo além do que deve pensar; mas pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.” Paulo nos convida a ter uma visão equilibrada da vida, o que implica saber quem somos e conhecer nossas limitações — isso é autoconhecimento. Ele nos adverte a não nos considerarmos mais importantes do que os outros. Isso também significa que não devemos julgar os outros, mas sim a nós mesmos; ou seja, nossa vida não deve servir como parâmetro de comparação com a dos outros. Você acha que sabe mais em alguma área? Ótimo, mas lembre-se de que o outro pode saber mais que você em outra área. O que realmente nos diferencia dos demais? A resposta é cultivar a humildade.
É como alguém que se gaba constantemente, buscando atenção ao falar apenas de si mesmo, lamentando-se sobre as dificuldades da vida, o esforço para concluir a faculdade, as horas insones dedicadas à oração pela igreja, o tempo gasto ensaiando uma música ou preparando um sermão. Na verdade, essa pessoa está buscando, por meio de uma narrativa de sofrimentos, uma forma de ser elogiada ou reconhecida. Esse comportamento é um exemplo de falsa humildade.
Para entender o que é simplicidade, podemos considerá-la sob algumas perspectivas. Ser simples é ser descomplicado: uma pessoa simples pode ser descrita como alguém que não complica as coisas, que é fácil de entender e de lidar. Ela valoriza a simplicidade e a clareza em sua vida e pensamentos.
Ser simples é viver sem ostentação: essa definição pode enfatizar a ausência de ostentação ou extravagância. Uma pessoa simples pode ser vista como alguém que não busca chamar atenção para si mesma através de roupas, posses ou comportamentos extravagantes.
Ser simples também significa ser modesto: alguém que não se vangloria de suas conquistas ou posses e que vive uma vida modesta e humilde.
Uma pessoa simples pode ser alguém honesto e sincero em suas interações com os outros, sem pretensões ou artifícios, genuíno e autêntico em seus relacionamentos.
UMA PESSOA SIMPLES
Refletindo sobre João Batista, consideremos que ele nasceu com um único propósito: preparar o caminho do Senhor. Ele poderia ter se orgulhado disso, mas há um registro em Mateus 11:11 que diz: “Digo-lhes a verdade: Entre os nascidos de mulher, não surgiu ninguém maior do que João Batista; contudo, o menor no Reino dos céus é maior do que ele.” Jesus destaca que, embora João fosse o maior por ser Seu precursor, aquele que se considera menor é, de fato, maior do que ele. A questão não é quem somos, mas a quem pertencemos. João Batista pregava o evangelho com vestes de peles de camelo e um cinto de couro, alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre — tudo o que precisava para sobreviver e cumprir sua missão. Ele pregava com autoridade e, com simplicidade, oferecia o batismo e o arrependimento.
Quando Jesus começou a atrair mais seguidores do que ele, João prontamente reconheceu a superioridade de Jesus e declarou: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30, NVI).
A SIMPLICIDADE DOS FORTES
Os bois são conhecidos por sua força e resistência, sendo historicamente utilizados como animais de trabalho em atividades agrícolas, como arar campos, transportar cargas pesadas e puxar equipamentos. São robustos e possuem uma estrutura física que lhes permite realizar tarefas pesadas. Sua força é evidente na capacidade de puxar arados e carruagens carregadas. Além disso, são conhecidos por sua calma e tranquilidade, com um temperamento dócil e paciente, tornando-os parceiros valiosos na agricultura.
Apesar de sua simplicidade em comparação com animais mais complexos, como cavalos, os bois têm sido cruciais na história da agricultura e no desenvolvimento humano. Sua força e resistência são exemplos de como a simplicidade pode ser uma fonte de poder e utilidade.
DEPENDENTES DO SENHOR
Outra citação relevante é Mateus 10:16: “Eu os estou enviando como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas.” As ovelhas são conhecidas por sua natureza dócil, dependente e vulnerável, necessitando de proteção e orientação de um pastor. Isso nos ensina que devemos ser totalmente dependentes do Senhor, como ovelhas que confiam em seu pastor.
Outra lição importante é que devemos ser como as pombas, simples e sem malícia; é muito ruim um crente ser malicioso. As pombas são um símbolo de pureza, frequentemente associadas à paz. Precisamos ser puros. Malícia refere-se à tendência de agir com a intenção de prejudicar ou enganar os outros, muitas vezes de forma sorrateira ou astuta. É a qualidade de ser malicioso, que envolve uma mentalidade ou comportamento desonesto, ardiloso ou perverso. A maledicência refere-se à prática de falar mal ou difamar outra pessoa na ausência dela, geralmente de maneira maliciosa ou prejudicial. É um comportamento que envolve espalhar rumores, fofocas ou críticas negativas sobre alguém, muitas vezes com o objetivo de denegrir sua reputação ou causar danos à sua imagem. Irmãos, não podemos ser assim; se há em nós essas coisas, precisamos urgentemente começar a mudar nossa vida.
A vida dos nossos irmãos da igreja primitiva era simples, assim como Jesus ensinou. Eles tinham atitudes que eram fundamentais para o crescimento da igreja. Perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo (At 2:46-47). Vale lembrar que era uma igreja que crescia nas casas; não tinham nada, não tinham instrumentos, templos lindos, nada demais. Eram simplesmente a igreja de Cristo e mais nada.
A IGREJA PRIMITIVA ERA SIMPLES
Eles viviam sobre quatro pilares importantes: “Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações.” Sobre esses quatro pilares estava construída a igreja de Cristo, cujo alicerce era o próprio Cristo. E, consequentemente, “Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum” (Atos 2:42-44). A simplicidade é poderosa; ela nos coloca no lugar exato onde devemos ficar, nem para mais, nem para menos. Ela nos diz quem somos e aonde podemos ir. Ela nos traz direção e ampla visão do Reino de Deus, ela nos distancia do pecado e nos aproxima de Deus.
"Quando vem o orgulho, chega também a desgraça, mas a sabedoria está com os humildes." Provérbios 11:2.
Jesus certa vez chamou a atenção das pessoas ao seu redor usando o exemplo de uma criança. Em Mateus 18:3-4, Ele disse: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Portanto, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus.” Uma criança é simples. Não é difícil fazer uma criança feliz; ela não precisa de muita coisa. Ela apenas quer amar e ser amada, e viver coisas boas. Nosso coração não deveria ser assim?
Existe outra questão que Pedro apresenta para nós em sua primeira carta, no capítulo 5, versículos 5 e 6: “Semelhantemente, jovens, sede submissos aos mais velhos. E, todos vós, revesti-vos de humildade uns para com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no devido tempo.” Nesse versículo, é importante ressaltar que Deus se torna resistente àqueles que acham que são alguma coisa. Parece-me que os soberbos não conseguem muito favor de Deus. Por outro lado, Ele oferece exaltação aos humildes. Enquanto acontece a humilhação, Deus está preparando um dia para exaltação, e o melhor disso é que essa exaltação vem d’Ele.
Será que estamos equivocados em relação a nós mesmos? É bom fazer uma análise crítica sobre nós mesmos, buscando encontrar sentimentos que atrapalhem nossa comunhão com Deus e com a igreja. Mas eu tenho uma notícia boa para você: você pode mudar. O Espírito Santo pode transformar e mudar todo o seu caráter. Obedeça e confie no Senhor.
“Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e Ele endireitará as suas veredas.” Provérbios 3:5-6
Que possamos dobrar nossos joelhos e fazer uma oração verdadeira diante de Deus, confessando pecados, dizendo a Ele que precisamos de mudanças. Podemos apresentar para Deus nossas dificuldades; Ele é o nosso Deus e o único que pode nos ajudar. É preciso coragem para falar de si mesmo, mas é necessário; é o ponto de partida para mudanças. Que Deus abençoe sua vida e que você consiga fazer assim.
Claudio H. C. Duarte
Mensagem nº 38 - Maio/2024
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